Futebol Nacional

O amor pelo time começa na arquibancada

História inspiradora entre pais e filha ao torcer pelo futebol feminino

As mulheres vêm ganhando cada vez mais visibilidade em diversos meios, principalmente no profissional, e um deles é o desempenho em campo, com direito a torcida organizada

Por Beatriz Jarins

As disputas entre os times femininos do futebol brasileiro vêm ganhando mais força da torcida atualmente. Um exemplo disso foi o jogo entre Corinthians X Internacional, no dia 24 de setembro de 2022, que ocorreu em São Paulo, na Neo Química Arena, com capacidade para 49.205 pessoas. Na disputa, mais de 80% do estádio estava ocupado por torcedores, com 41.070 pessoas assistindo ao vivo, considerado o maior público de um jogo feminino na América Latina.

A torcida organizada entre Corinthians X Internacional ganhou grande destaque e reconhecimento (Foto: Reprodução/ internet)

Outra disputa do Brasileirão foi o jogo entre Palmeiras X Corinthians, no estádio Allianz Parque em 04 de junho de 2022, que contou com a torcida de uma família sorocabana. Estes dois times, em específico, influenciaram na trajetória do pai, palmeirense e funcionário público, José Antonio Nascimento, de 58 anos; da mãe, corintiana e dona de casa, Shirlei Donizeti Pedro Nascimento, de 54 anos e da filha, torcedora de times com equipes femininas, no geral e estudante de publicidade, Laís Nascimento, de 21 anos.

Ter ido assistir à vitória do Palmeiras no próprio estádio do time, rendeu um passeio divertido para a família, afirma Shirlei, que mesmo triste pela derrota do Corinthians, gostou bastante do momento.

De forma alegre, a família conta em detalhes sobre como começou o amor por cada time (Foto: Beatriz Jarins)

A família de torcedores

Para José Antonio, o amor pelo Palmeiras foi intuitivo. Seu primeiro contato com o time foi aos 10 anos de idade e diferente da maioria, que começa a torcer por determinado time por influência da família, o palmeirense passou a acompanhar os jogos a partir de uma disputa, também entre Palmeiras X Corinthians, em dezembro de 1974.

Ele relembra emocionado que era possível escutar da sua casa, a alegria dos vizinhos torcedores pelo time alviverde, após ter ganhado a partida, e o pequeno José, na época, se interessou por querer torcer também, desde então.

Já Shirlei Donizeti, é corintiana há 40 anos, por influência e admiração pelo irmão, que era torcedor do Timão. Dentro de casa era uma mistura de torcidas, com o pai são paulino, além de mais dois irmãos santistas, enquanto a mãe torcia pelo time Ferroviário.

José brinca, acompanhado das risadas da família, que a esposa, na verdade, torce para o Corinthians há 30 anos, sendo a época em que eles se conheceram e que Shirley descobriu que ele era palmeirense.

A estudante de publicidade e propaganda na Universidade de Sorocaba, Laís Nascimento, diz não torcer para nenhum time  específico. Ela não era tão familiarizada com a prática esportiva até assistir ao jogo da seleção feminina, na Copa de 2019. Foi quando começou a ter interesse pelo futebol feminino. Mas segundo os pais, novamente em meio às risadas e clima de descontração, a Laís torce para o time que estiver ganhando.

Assistir jogos em estádio de futebol é um evento que acontece na família Nascimento já há alguns anos (Foto: Arquivo pessoal)

Assistir à disputa do Brasileirão feminino ao vivo

A sugestão de ir assistir à disputa da 11ª rodada do Campeonato Brasileiro Feminino foi feita pelo pai, na brincadeira, sem imaginar que as mulheres da família iriam aprovar a ideia, rendendo um passeio diferente e encantador para todos. Com muita alegria, principalmente porque o José viu seu time ganhar por 2 a 0, a Laís pode assistir pela primeira vez ao vivo um jogo de disputa feminina e Shirlei teve a oportunidade de torcer de perto pelo seu time.

José Antonio veste a camiseta personalizada em seu nome e número de escalação com referência a data de seu aniversário (Foto: Beatriz Jarins)

O casal e a filha já tinham assistido outras partidas no estádio, mas da equipe masculina. No caso do jogo feminino, foi a primeira vez que presenciaram as “Palestrinas” jogarem contra as “Brabas” (apelidos das jogadoras do Palmeiras e Corinthians, respectivamente) em campo. Com 5.947 pessoas assistindo, a torcida do dia 24 de junho foi considerada recorde de público do futebol feminino no Allianz Parque, até então.

Um dos motivos apontado por José e ressaltado por Laís, foi o valor do ingresso, sendo bem mais barato do que as partidas masculinas, por exemplo.

As Palestrinas fizeram um ótimo trabalho junto com as Brabas, deixando a torcida animada (Foto: Reprodução/ internet)

Futebol feminino vem ganhando cada vez mais espaço

Para Laís: “A melhor parte do passeio foi, com certeza, assistir à partida feminina. Ver o esporte, o jogo das mulheres ali acontecendo”. Além de ter visto a banda ao vivo, enquanto a galera estava emocionada e empolgada na torcida, de forma parecida como acontece nos jogos masculinos.

Ela relembra a sensação ao ver a torcida apoiando as jogadoras e ao perceber que não existia mais os comentários machistas de “mulher não sabe jogar” ou “futebol é coisa de menino”.

Preconceito

O futebol é um dos esportes mais populares no Brasil, mas as disputas femininas só começaram a ter o reconhecimento que merecem nos últimos tempos. A primeira Copa do Mundo feminina foi realizada em 1991 e a primeira participação nos Jogos Olímpicos foi em 1996.

Durante o golpe militar de 1964, as mulheres ficaram proibidas de jogar, conforme o Decreto de nº 3.199 Art. 54: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”. Após o fim da ditadura, entre as décadas de 1970 e 1980, houve também o fim dessa proibição e as mulheres puderam voltar a conquistar seus lugares em campo.

Por mais que estejam ganhando mais reconhecimento agora, as mulheres boas de bola ainda precisam caminhar muito para ter o mesmo destaque dos times masculinos. Confira o infográfico:

Amor pelo time e pela família andam lado a lado

Com coleções de itens esportivos, como camisetas, copos, canecas, chaveiros e bandeiras, o casal já dividiu várias lembranças com os times de coração, como participações em carnavais e eventos em família utilizando as camisetas. Já Laís, tem apenas uma camiseta de time, ganhada do pai, após terem assistido a este jogo feminino que comentam.

Nos bastidores, é possível conferir uma parte dos itens de coleção que o casal guarda de seus times (Foto: Beatriz Jarins)

A união da família em assistir às partidas de futebol juntos só acontece nas disputas femininas, pois quando se trata dos times masculinos, José e Shirlei comentam, rindo, que preferem assistir separadamente e lembram de momentos em que a torcida já foi tema de conflitos dentro de casa. É nessas ocasiões em que a filha Laís escolhe, na hora, qual dos times terá a sua torcida.

Uma sugestão que começou como brincadeira levou a família até o estádio, para torcer de perto pelos seus times (Foto: Arquivo pessoal)

A família afirma que tem vontade de assistir mais jogos de futebol femininos, por ter sido um passeio divertido e Shirlei acrescenta rindo: “O próximo jogo que a gente irá assistir será do Corinthians na Neo Química Arena, se não, eu não vou”.

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